domingo, 25 de julho de 2010

MASTERCLASS DE KARAGOZ por CENGIZ OZEK, NO FESTAFIFE 2010 ,


FESTAFIFE 2010 APRESENTA:

MASTER-CLASS

“ Criação de figuras de sombras tradicionais da Turquia”

Por Cengiz Ozek

Duração: 31 horas

Descrição detalhada das actividades:

15 de Novembro:

Seminário: Palco, personagens, acção, movimento, dramaturgia, fantasia no Karagöz.

Local: ESE / IPVC- Anfiteatro

Hora: 20h30

Duração: 3 horas

16 de Novembro:

Prática: Escolha de personagem. A definição de acção e articulação. Desenho e recorte de figuras (ou peças).

Local: ESE / IPVC

Hora: 9h30-12h30 / 14h30-18h30

Duração: 7 horas

17 de Novembro:

Teoria - Prática: Significados de cores. Pintura com corantes naturais.

Local: ESE / IPVC

Hora: 9h30-12h30 / 14h30-18h30

Duração: 7 horas

18 de Novembro:

Prática: Articulações, colocação de varas e criação de “Firdöndü” mecanismo

Local: ESE / IPVC

Hora: 9h30-12h30 / 14h30-18h30

Duração: 7 horas

19 de Novembro:

Teoria e Prática: Manipulação, movimento, efeitos sonoros, “nereke e def / Cazu e pandeirete”, música, ritmo e ritual.

Local: ESE / IPVC

Hora: 9h30-12h30 / 14h30-18h30

Duração: 7 horas

  • É um masterclass destinado a profissionais de teatro ou artistas plásticos.
  • Para as inscrições, é obrigatório envio de CV.
  • O número máximo de participantes é 16.
  • O seminário é aberto ao público


KARAGÖZ

O teatro de sombras é uma arte milenar do oriente e conseguiu contaminar linguagens teatrais no mundo inteiro. É um género que faz parte do teatro de animação, que engloba bonecos, objectos, máscaras e outras formas animadas. As suas técnicas são relativamente simples: através de uma tela branca onde um foco de luz se acende, sombras de silhuetas de figuras humanas, animais, ou objectos, recortadas de um material transparente, são projectadas em conjunto, ou isoladas, criando um mundo poético e mágico de histórias.


Um pouco de história

“Sombras da Turquia no contexto do Teatro Tradicional”


No seu percurso histórico, o teatro de sombras assumiu diversas características de acordo com a cultura da região em que foi produzido. A sua origem é muito antiga. Há registos de antigas silhuetas datadas de 500 ou 1000 AC nos espólios de museus da China e Índia, mas ainda não há um consenso sobre a origem desta arte.

O teatro de sombras, que envolve figuras de sombra bidimensionais sobre uma tela, teve um lugar importante na Turquia, bem como, por todo o território do Império Otomano.

Os turcos, antes de conhecerem o teatro de sombras, no século XVI, já desfrutavam uma tradição antiga no Teatro de Bonecos. Não há praticamente nenhum tipo de teatro de bonecos que não tivesse passado pela Turquia. A tradição de bonecos veio da Ásia Central, muito diferente do teatro de sombras. Aliás, a Ásia Central e Pérsia, não possuem a tradição do teatro de sombras. Há uma probabilidade de ter sido “emprestado” do Egipto, no século XVI. Uma pergunta, entretanto, permanece desde sempre sobre a origem do teatro de sombra no Egipto.

O Teatro de sombras turco, assim, parece ser o produto de um processo histórico e inclui os elementos, movimentos, atitudes e costumes do Teatro de Actores Otomano, como bobos e bailarinos grotescos, que já existiam muito antes do aparecimento do teatro de sombras.

Não se sabe quase nada sobre as figuras de Karagoz inicial. Entretanto a rica fonte de referência das miniaturas Otomanas dos séculos XVI, XVII e XVIII descrevem bobos e bailarinos grotescos, os quais obedecem ao estilo das figuras de Karagoz não só nos seus trajes e chapéus, mas também nas suas posturas e características.

Os egípcios, os chineses, os árabes ou outros poderiam ter legado uma leve influência neste caminho. No entanto, na sua essência, Karagoz é uma secção transversal da rica cultura turca, ou seja, da poesia, música, pintura, miniatura, costumes populares e tradição oral. Assim uma união ou uma fusão destes elementos culturais e artísticos é hoje conhecido como Karagoz.

Karagoz é uma viagem à História da Arte e à História do Teatro.

De Ortaoyunu para Karagoz


Podemos encontrar registos de algumas manifestações do instinto dramático dos turcos seljúcidas no século XII. No “Ortaoyunu”, que é a commedia dell'arte turca, os traços da arte dramática turca poderiam ser definidos como as farsas, as produções de improviso com base em situações de humor rudimentar com as personagens e figurinos tipo. O mimetismo animal desempenhava um papel importante nessas produções, sendo o veado o personagem principal.

Havia também farsas ocasionais realizadas nas ruas, sempre que havia uma audiência ou curiosos dispostos a participarem. Era comum um tipo de teatro de rua, muitas vezes pré-estabelecido, criando situações cómicas, na frente de lojas e casas que em grande parte vivia através de improvisações com piadas inseridas no calor do momento. Jogadores (assim se intitulava o actor) representavam as personagens como os cobradores de impostos, os homens ignorantes e caçadores de tesouros. Assim “brincavam” com comerciantes, com piadas para obter dinheiro a partir delas.
Um olhar mais atento a Karagoz, nota facilmente a semelhança entre os seus personagens e os seus elementos cómicos, a sua atmosfera do Ortaoyunu.
A única diferença reside no facto em que Karagoz utiliza um meio de animação de figuras, distinguindo-se de Ortaoyunu com os actores de carne e osso. Sob a influência ocidental, a rica tradição da Ortaoyunu mais tarde entrou em decadência e acabou por ser transformada num tipo diferente de teatro improvisado chamado Tuluat.

Por causa da sua expressão e da natureza especial do seu relacionamento com o público, Ortaoyunu pode ser definido como um Teatro Não-Ilusionista. O actor não perde a sua identidade como um actor e mostra consciência de si para o público. O público não o considera como uma pessoa real, mas como actor. A área de actuação não é separada do público, não existe uma linha entre eles, nem a invisível quarta parede. O jogo é realizado quase com nenhum cenário, em tudo dentro de um círculo onde o público assiste ao jogo de actores.

A personagem principal, um cómico, frequentemente, viola as convenções tradicionais da dramaturgia. As performances de Ortaoyunu (como o teatro de sombras e narrativa de histórias) não têm parcelas no sentido aristotélico. Não possuem um início, um meio e um fim estabelecidos. Eles estão soltos. A estrutura episódica não requer a atenção de um público compulsivo. Cada episódio é independente e, por conseguinte, em performances diferentes, os episódios podem ser intercambiáveis, adicionado ou subtraído, de acordo com as reacções do público ou do bonecreiro (ou a decisão do actor, no Ortaoyunu), sem prejudicar o andamento normal da acção. Os títulos das peças e as semelhanças nos cenários provam um paralelismo estreito entre Karagoz e Ortaoyunu.

A seguir o Ortaoyunu, há uma outra tradição do teatro popular que podemos chamar de “Contador de Histórias”. A história dramática contada por um único orador “Meddah”, um actor inteligente e intuitivo, que "tem muitos personagens” com gestos adequados, alterações de voz e sotaques.

O terceiro teatro popular é de tradição de Teatro de Bonecos incluindo teatro de bonecos de sombra “Karagoz”.

Uma pergunta pertinente no contexto cultural: Arte do Povo ou Arte de Corte?

Diferentemente da maioria dos países asiáticos, a Turquia não tem tradição de teatro individualizado e distinto de corte. Até o período ocidentalizado, o teatro de corte era simplesmente importado do teatro popular.

A corte foi o patrono dos grupos, dançarinos, actores, contadores de histórias, palhaços, ilusionistas e mestres de bonecos. Eles teriam de realizar para a aristocracia do palácio as obras pouco mais refinadas e literárias.

A corte sustentou entretenimento teatral fora do palácio também. O nascimento de um novo herdeiro ao trono ou a sua circuncisão, um casamento, a colocação de um novo governante, fim de uma guerra, a partida para uma nova conquista, a chegada de um embaixador estrangeiro criavam ocasiões de festas públicas.

Estas serviam o duplo propósito de divertir os cortesãos e o povo com uma exibição de magnificência. As festividades incluíam não só as procissões, iluminações, fogos de artifício, jogos equestres, mas também a dança, música, recitais de poesia e apresentações de malabaristas, palhaços e saltimbancos. A presença de Karagoz era comum nestas festas.

O Cenário, as figuras e as técnicas de manipulação

“O Palco” do Teatro de Sombras Karagoz é separado do público por uma folha de qualquer material branco translúcido, mas de preferência o algodão egípcio fino. É montado como uma tela de pintores, esticada num quadro. O tamanho da tela, no passado, foi de 2 m x 2,5 m, em tempos mais recentes, foi reduzido para 1 m x 1,60 m.

Nos tempos antigos, o animador de sombras ficava por trás da tela, segurando os bonecos contra a tela e usando uma lâmpada de azeite como fonte de luz por trás. Uma lâmpada a óleo era preferível, uma vez que lançava uma sombra boa e tornava as personagens mais nítidas, e ajudando a criar uma aparência mais realista. A luz fica, sempre, fixa por trás e logo abaixo da tela. A distância da luz é determinada pela necessidade criada nas relações entre a tela e sombra. O ecrã difunde a luz, a luz brilha multicolor através do material transparente, fazendo com que as figuras parecem vitrais.

O bonecreiro mantém o boneco muito próximo da tela com varas na horizontal e colocadas perpendicularmente ao boneco. Com varas na horizontal, manipulada perpendicularmente à tela as sombras das varas são diminuídas, mas o controle é limitado. Os bonecos de Teatro de Sombras da Turquia são para serem trabalhados pelas varas horizontais, ao contrário do Bonecos de Java e outros bonecos de sombra de Sudeste Asiático, que são movidos e apoiados por barras verticais. No entanto, existem dois dispositivos que oferecem alternativas para as barras horizontais usadas nos espectáculos de sombras turcas. Um deles é Hayal Ağacı/ Árvore de Imaginação. O bonecreiro pode manipular apenas dois números de bonecos figuras de cada vez, por isso quando há uma necessidade para o uso de mais de duas figuras no palco, ele usa este tipo de dispositivo.

O dispositivo “Árvore de Imaginação” é uma haste em forma de Y. As hastes em forma de Y são presos nos furos, na parte inferior da tela, para que segurem verticalmente. As hastes horizontais das figuras são colocadas na fenda destas varas, de modo a fixar as figuras. Através deste dispositivo uma cena de multidão pode ser facilmente realizada.

O segundo dispositivo é chamado “Firdondu”, um giro, que é criado para superar uma desvantagem apresentada pelas varas horizontais, isto é, o facto de que os bonecos não podem virar a cara para o outro lado. Este dispositivo é semelhante ao usado no jogo de sombras chinesas. É simplesmente uma máquina simples com o uso de um fio fixado num cabo de madeira, o fim deste está inserido no couro, na borda externa e na parte de trás, numa espécie de dobradiça ligado à figura. O bonecreiro pode dar um toque rápido, a fim de virar a face da figura no sentido oposto.

Os bonecos são manipulados e o comprimento das varas de controlo pode ser ajustado, permitindo trabalhar nas áreas superiores sem o risco de visibilidade da sombra das mãos do bonecreiro.

As figuras são planas, silhuetas de corte limpo, em cores. A pele do animal usado na confecção dos bonecos, é principalmente, a do camelo. A pele é bem esfregada e embebida numa solução especial para remover a sujidade e para torná-la mais macia. A pele é seca ao sol durante os meses de Julho e Agosto. É alisada e tratada até que fique quase transparente, e é bem raspada com um pedaço de vidro quebrado para remover os pêlos. Finalmente é polida. O contorno é desenhado pela aplicação de um molde ou um padrão e as linhas cortadas com uma faca específica chamada “Nevregan”. A figura recortada é então corada com corantes vegetais translúcidos de azul, roxo, verde folha, verde oliva, vermelho escarlate, terracota, castanho e amarelo. As articulações são feitas com um pedaço do intestino tratado como fio, com cada uma das duas peças no ponto de sobreposição e, em seguida, amarrado em nó de ambos os lados.

A acção das figuras, dita as suas formas. Cada uma delas tem um buraco em algum lugar na parte superior do corpo, que é reforçado por um pedaço de couro duplo onde a vara de controlo possa ser perfeitamente inserida de cada lado. A segunda vara de Karagoz cria uma acção distinta e distingue-se assim da maior parte das figuras de sombra turcas que têm uma articulação entre a cabeça e o corpo, que geralmente é a única articulação. O resto do corpo abaixo do pescoço é feito em uma peça. Em bonecos, o furo da vara de manipulação está no pescoço. Desta forma, uma figura pode fazer uma cambalhota completa com uma torção da vara. Karagoz tem um braço que cria uma segunda articulação e ainda, o seu chapeu está ligado por uma junta frouxa na parte de trás da cabeça, assim com um movimento rápido do pulso do bonecreiro, ele pode cair para expor a careca do Karagoz. Mas o Karagoz não é a única figura que é manipulado por duas hastes. Usando as duas varas podem ser realizados movimentos repentinos e radicais para o chão ou inclinar o corpo para trás para olhar para o céu.


Na criação da fantasia e na realização de transformações mágicas, o teatro de sombras usa vários dispositivos. Por exemplo, a figura não mostra um boneco com duas cabeças, sendo uma delas, ocultada por trás do corpo. Quando a acção pede a cabeça de uma figura para se transformar numa cabeça de burro, girando a vareta num círculo completo, a cabeça escondida, “o burro”, toma o lugar da cabeça do real, que por sua vez fica escondida atrás do corpo.

No entanto, a fim de mudar o traje de uma personagem, duas figuras distintas de uma mesma figura são usadas. As figuras variam em tamanho, podendo ir de 24 centímetros até 35 centímetros de altura. O tamanho médio é de cerca de 30 centímetros. A mais pequena é um anão, cerca de 20 centímetros de altura, enquanto a mais alta é Himmet Baba, um pouco mais de 57 centímetros.

Porquês de “Teatro Tradicional de Sombras da Turquia, no Festafife 2010”

Apresentamos a nossa candidatura no contexto de Promoção da Diversidade de Expressões Culturais, que cremos que fortalece de forma poderosa a meta de preservação e o encontro das culturas diversas e as suas manifestações artísticas.

O objectivo do FESTAFIFE desde a sua primeira edição em 2007 é colocar em destaque os diferentes projectos, em áreas de teatro e cinema de animação, que contribuem para o diálogo inter-cultural. Por isso, a fim de fazer um balanço das últimas três edições e, sobretudo, para desenhar perspectivas, desejamos que este evento não seja um fim em si, mas o ponto de partida em matéria de promoção do diálogo inter-cultural.

Mais uma vez, na sua quarta edição FESTAFIFE; Festival Internacional de Teatro e de Cinema de Animação colocará em relevo as outras culturas e as suas manifestações artísticas através de múltiplos eventos em Viana do Castelo. A partir de 14 de Novembro e durante oito dias, dezenas de eventos serão propostos na cidade, e também em todo o Portugal: os participantes de mais de dez países e artistas portugueses vão -se em diversas modalidades: teatro, dança, performance, música, fotografia e cinema.

Numa sociedade cada vez mais global, a diversidade cultural e diálogo inter-cultural são questões sensíveis a partir do momento em que atingem as identidades, as particularidades próprias a cada comunidade humana e à forma como estas devem coexistir no seio de uma mesma sociedade. Neste contexto, criamos mais um encontro entre Ocidente e Oriente e entre Tradição e Modernidade.

Assim justificamos neste festival a presença do artista Cengiz Ozek, o nome mais importante na área de Teatro de Sombras da Turquia. A sua exposição de “Figuras Tradicionais de Sombras” fará parte de uma Instalação Artística intítulada “Animar o Inanimado”, onde serão criadas várias encruzilhadas, onde a intenção é fundir os olhares, os tempos, os saberes artísticos e confundir as leituras. Cengiz Ozek também participa como formador no FESTAFIFE ACADÉMICO, que se realiza com o apoio de Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, onde realizará um Masterclass sobre a criação de Figuras Tradicionais de Sombras, uma técnica, uma tradição milenar, para artistas plásticos, actores e marionetistas. No ano 2010, em que Istambul é Capital Europeia da Cultura, a presença de Cengiz Ozek no Festafife, cria uma ponte entre Turquia e Portugal, atravessando todo o continente europeu, trazendo uma parte da sua cultura até nós.

Os fenómenos migratórios, antigos e novos, que enriqueceram nossa identidade ao longo da história continuam em forma de encontros e festivais artísticos. As artes constituem os centros naturais das culturas e são o reflexo e, mais ainda, o motor dos intercâmbios e das identidades constantemente questionadas durante toda a história. A arte tende a deslocar-se em constante movimento migratório, porque a arte, por definição, não conhece fronteiras. Desde sempre, os artistas derrubam muros, alimentam-se de outras culturas e a abertura de uma sociedade para o resto do mundo também é lida pela sua vida artística.

Assim desejamos que o FESTAFIFE seja um dos eventos que permita, na intenção dos seus organizadores e dos participantes, a realização desse princípio pelo qual temos tanto apreço: o respeito à igual dignidade das culturas.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Petição Plataforma Geral da Cultura - Teatro Maria Matos (Lisboa) - 5 de Julho de 2010



Petição Plataforma Geral da Cultura - Teatro Maria Matos (Lisboa) - 5 de Julho de 2010
Para:Primeiro-Ministro; Ministra da Cultura; Ministro das Finanças
O sector da Cultura – as actividades culturais e a criação artística em geral – tem vindo a sofrer ao longo dos últimos dez anos, um sistemático desinvestimento por parte do Estado Português.
A situação atingiu uma tal degradação, que o próprio Primeiro-Ministro o reconheceu na última campanha eleitoral, comprometendo-se a que na actual legislatura o sector da Cultura seria prioritário e veria o investimento do Estado consideravelmente aumentado: é isso que diz o Programa do Governo.
E no entanto, desde o passado dia 18 de Junho, com a publicação do Decreto-Lei nº 72-A/2010 e as medidas que aí são impostas ao Ministério da Cultura - uma cativação geral de 20% e a retenção de 10% nos contratos celebrados e a celebrar - a situação abeira-se da catástrofe.
Por isso queremos hoje e aqui reafirmar:
1. Estamos conscientes da crise que o país atravessa, mas há dez anos que o sector da Cultura vive com sucessivos cortes orçamentais, com verbas cada vez mais reduzidas: para a Cultura, a austeridade não está a começar agora, começou há já muitos anos.
2. Os profissionais das actividades culturais e artísticas há muito que fazem sacrifícios para manter a sua actividade e a sua profissão: trabalham com orçamentos cada vez mais escassos, trabalham com contrapartidas cada vez mais reduzidas.
3. Ao contrário do que diz a Senhora Ministra da Cultura, são os próprios profissionais e criadores, que vivem nesta situação, que em larga medida financiam eles próprios a actividade cultural em Portugal.
4. A criação cultural contemporânea portuguesa é uma das actividades que mais projecção internacional tem dado ao país. E internamente, como foi reconhecido num estudo independente, as indústrias culturais têm um peso cada vez mais significativo na economia portuguesa.
5. Os cortes que o Governo agora pretende fazer terão consequências dramáticas para os projectos actualmente em curso, com a sua paralisação e consequente fecho de empresas, estruturas, desemprego entre os trabalhadores sem protecção social, desencorajamento entre os criadores.
6. A falta de comunicação e de informação clara por parte do Ministério da Cultura e das suas Direcções-Gerais sobre a situação agora criada gerou um clima de inquietação e insegurança absolutamente inaceitável.
Por isso não podemos hoje deixar de exigir:
1. A revogação imediata do artigo 49º do Decreto-Lei nº 72-A/2010, e da cativação de 20% das verbas do Ministério da Cultura, para a qual é suficiente a vontade política do Primeiro-Ministro.
2. Com a consequente revogação da redução em 10% sobre os contratos em curso ou a realizar durante o corrente ano, bem como do orçamento de Direcções-Gerais e Institutos do Ministério da Cultura directamente relacionados com os apoios à criação.
3. Mas exigimos sobretudo que o Estado Português assuma de forma clara o Direito à Cultura e o investimento na Cultura e nas Artes.
4. E que os profissionais da Cultura sejam encarados e tratados com o respeito que o seu trabalho merece, que se acabe de uma vez por todas com o discurso dos subsídio-dependentes, que se respeitem os criadores e os artistas portugueses.

Ada Pereira - PLATEIA – Associação de Profissionais das Artes Cénicas
Luís Urbano - Plataforma do Cinema
Pedro Borges - Plataforma do Cinema
Rui Horta - REDE – Associação de Estruturas para a Dança Contemporânea
Tiago Rodrigues - Plataforma do Teatro

Os signatários

http://www.peticaopublica.com/?pi=DL72A